Modativismo
Ativismo é uma postura crítica, materializada em ações individuais e coletivas, que visam a mudança do curso de vida de uma comunidade ou grupo.
Ativismo é uma postura crítica, materializada em ações individuais e coletivas, que visam a mudança do curso de vida de uma comunidade ou grupo. Por meio do trabalho de criação de objetos vestíveis e imagens que centralizam a moda e a aparência como esfera de debate político e produção discursiva, reivindico por definir a minha própria narrativa e elaborar modos de produção de conhecimento que pesem, na mesma medida, tanto a produção da intelectualidade mental, quanto os produtos da intelectualidade manual e, com isso, busco materializar posturas ativistas.
Percurso
Desde muito nova, interessada por moda, já vivia o incômodo de desejar acessar um campo de criação que me excluía, inferiorizava, e por vezes até me objetificava, uma vez que, desde muito cedo tive a consciência de quem sou: mulher negra e nordestina
Desde muito nova, interessada por moda, já vivia o incômodo de desejar acessar um campo de criação que me excluía, inferiorizava, e por vezes até me objetificava, uma vez que, desde muito cedo tive a consciência de quem sou: mulher negra e nordestina, integrante de um grupo de pessoas humanas que historicamente foi significado como subalterno e abjeto. A partir dessa consciência crítica, me tornei autodidata para me formar como designer de moda e comecei a experimentar metodologias diferentes daquelas que aprendi nessa área de estudo. Por conta de uma demanda imposta pelo caráter inovador do meu perfil de trabalho como artista, fui impelida/imbuída a criar os conceitos e os métodos de ensino-aprendizagem intitulado como Modativismo.
Como um aporte teórico-metodológico, o Modativismo parte sobretudo, de uma postura política, que abarca modos decoloniais de encadeamento entre formas de pensamento e ação, resultantes de processos criativos e produtivos respeitáveis à diversidade cultural brasileira e, por consequência, horizontais. Uma proposta que ampara processos de produção intelectual que resultam em criações, processos de fruição e construção de produtos, valorados não apenas pela sua materialidade, mas pelo legado imaterial que o sustenta e, consequentemente, pelo potencial de transformação social que aciona.
Para tanto, todos os processos criativos e construtivos delinearam trilhas autorais e auto-reflexivas afins, a ponto de se conectarem com o todo e assim, dialogarem com a análise do contexto político-cultural onde estavam inseridos, traçando, a partir desse reconhecimento situacional, caminhos de retorno às nossas origens, para que desde o reconhecimento de uma história de negritude que foi estratégica e violentamente apagada, pudéssemos referendar o legado das mulheres negras que nos antecederam, especialmente das nossas familiares de nascimento ou de renascimento.
As criações do Atelier-Escola Modativismo, nascem da assunção do incômodo e do desafio do que é ser mulher negra no Brasil. Num percurso de ode à nossa origem, criei os diversos trabalhos apresentados em passarelas e galerias de arte nacionais e internacionais, produzidos coletivamente pelas diversas pessoas que integram a equipe do projeto Modativismo desde o ano de 2013. Com os seguidos laboratórios criativos de moda e projetos de criação de figurino, construímos interlocuções diretas em atelier, com mais de 50 mulheres de diversas origens em cada laboratório criativo, e dentre os exitosos resultados, destaco os processos de construção da Coleção Asè, criada em 2016 a convite do Angola International Fashion Show em Luanda – Angola e Adama Paris Fashion Agency – Senegal e a Coleção Vozes, criação para a Black Fashion Week Paris – França, no ano de 2015.
Autoria: Carol Barreto, 2021.