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Coleção Asé

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Asè emana Luz, energia vital e beleza!         

A Coleção Asè nasce com inspiração nas marcas da afrobrasilidade, sob o impacto do retorno à terra de onde vieram nossas ancestrais, reverenciando as histórias de reconstrução da nossa negritude no Brasil. O ponto de partida é o imaginário alimentado durante décadas, por meio da oralidade, de rituais religiosos e culturais, por descendentes de pessoas africanas escravizadas no Brasil, de retorno à nossa terra original. Asè fala sobre o protagonismo das mulheres negras nas religiões de matriz africana, por meio da predominância da cor branca, tecidos leves e fluidos, enriquecidos por bordados manuais, traduzidos em peças que são as bases para as rendas artesanais e outras técnicas de beneficiamentos de tecido. 

Uma ode às Rainhas que são as Iyalorixás, as Mães de Santo, as Juremeiras, Sacerdotisas de Xangôs, Candomblés de Caboclo, Umbanda outros cultos de religiões afro-brasileiro-ameríndias. Também as  mulheres e mães, que são as Iyarobá, Ekedji, Makota, Iyakekere, Iyalaxè, Iyadagan, Iya Efun, Iyajibona, Ajoye, Gaiakus, Doné, Mametu de Nkisi, Muzenzas e Iyawos. Mulheres negras que nos espaços religiosos têm garantido o seu protagonismo e autonomia, diferentemente do lugar de subalternidade que muitas de nós ocupamos cotidianamente e que (nos) impõe a luta constante contra o racismo.         

Com o crescente aumento das denúncias de racismo e intolerância religiosa no Brasil, a oportunidade de levar uma coleção para desfilar em Luanda, no Angola International Fashion Show em 2016, foi uma das justificativas para debatermos sobre papel das mulheres negras e das religiões de matriz africana na constituição de uma cultura afro-brasileira. Compreendendo que cada pessoa negra e viva neste país, teve no passado a contribuição da existência do Asè, para reconstrução do nosso senso de família e do cuidado da saúde espiritual, física e mental. 

A Coleção Asè foi criada num coletivo de muitas mãos e trata também dessas violências e das invisibilidades provocadas pelo racismo, pois lida com afetos e memórias das pessoas componentes da equipe, ao construir os looks do desfile com peças doadas por familiares e cheias de história: como a colcha de cama que foi parte do enxoval de casamento dos meus avós na década de 1950, que vivem juntos na mesma casa em Santo Amaro-BA ainda hoje aos 95 anos; a toalha de mesa ainda inacabada, feita em crochet, que pertencia à mãe de Cllaudia Soares – uma das estilistas e co-autoras do trabalho – que fez a passagem nessa época e os bordados retirados de blusas antigas usadas pela avó de Laila Rosa – compositora da trilha do desfile – que era integrante do Terreiro Xambá em Recife –PE. 

Os têxteis artesanais adquiridos nos mercados de artes de João Pessoa – PB, Recife – PE e Salvador – BA serviram como matéria prima da coleção Asè, que se construiu a partir dos materiais de decoração feitos em renda filet, bordados richelieu, técnicas de crochet, renda renascença e outras tramas constituídas de fios naturais e típicos de casas populares do Nordeste do Brasil. Fazeres artesanais característicos de de mulheres afro-indígenas e trabalhadoras, que são reinterpretados para a construção das peças de roupa e da imagem da coleção, transitando desde a intimidade do lar, para o aspecto simbólico hierárquico da passarela e da fotografia, que ainda separa e une mulheres de diversos contextos e tempos históricos diferentes. 

Provocando por meio da criação, uma das reflexões caras ao campo de estudos feministas, penso na assimetria da valorização assimétrica e dicotômica entre as esferas pública e privada da nossa sociabilidade, e assim fui coletando produtos artesanais feitos para casa, como os bordados especiais vendidos como porta-copos, cortinas, toalhas de mesa, colchas de cama e outros elementos socialmente desvalorizados e sempre disponíveis nos mercados populares do Nordeste. A coleção propôs uma ressignificação desses materiais, bem como uma ampliação das formas de luta política contra o racismo, ocupando a passarela de moda, galerias de arte e teatros para fazer ecoar temas ainda invisíveis. 

Na leveza da Espiritualidade, agregando Força Coletiva à Luta, Asè emana Luz e Energia Vital, transformando a Dor em Beleza!    

Autoria: Carol Barreto, 2016.

Ficha Técnica: 

Designer: Carol Barreto 

Fotografia: Helen Salomão  

Audiovisual: Edgar Azevedo 

Modelos: Luma Nascimento, Anita Costa e Carla Akotirene

Jóias: Silvana Grappi 

Make up: Sika Caicó 

Produção de Moda: Flow Produtora 

Locação: Teatro Castro Alves – Salvador – BA

Evento: Angola International Fashion Show – Luanda – Angola, 2016. 

Confecção: 50 pessoas voluntárias no atelier-escola Modativismo.