Os caminhos da Diáspora Africana no Atlântico marcam nas pessoas oriundas de África, diferenças e similaridades estéticas, gestuais e subjetivas. Na sociabilidade contemporânea, aparências transnacionais espalhadas pelas ruas de países diversos, geram múltiplas representações de negritude e nesse jogo de estilos os cabelos são uma marca identitária importante, sejam os black powers, dreadlocks ou tranças. Como elo e fluxo dentre os produtos artísticos, estéticos, econômicos e políticos da Diáspora, linhas orgânicas e geométricas constroem rotas nos corpos e cabelos. Assim a Coleção fluxus propõe uma provocação para repensar os aspectos da moda frente aos valores sociais da contemporaneidade.
Apresentada no Dragão Fashion Brasil no ano de 2014, a principal inspiração de Carol para a coleção Fluxus veio da viagem para o Senegal, onde percebeu as singularidades da população negra de maioria muçulmana frente às possíveis culturas de origem no Brasil e também a influência de sua pesquisa sobre o trabalho do fotógrafo Nigeriano J.D.‘Okhai Ojeikere, que desde 1968 fotografou diversos estilos de tranças tradicionais africanas. Como um ponto comum entre o moderno e o tradicional, as tranças são representadas na Coleção FLUXUS, por meio das tramas de cordões de algodão cru e cobertos com linhas de seda, peças assinadas pela artista Ju Fonseca. Incorporam-se às vestes, num movimento de fluxo entre corpo e roupa, o aspecto orgânico representado nessas tranças e tramas volumosas, que contrapõem-se ao traço moderno e preciso, caracterizado pela geometria e minimalismo das peças, linha característica da estilista, que situa seu trabalho na estética afro-futurista e ao mesmo tempo em referências de culturas tradicionais.
A cartela de tecidos mistura fibras naturais e tecnológicas como: linho + poliamida, seda + viscose, algodão + poliamida, dentre outras bases têxteis que reforçam o conceito da coleção. Sobre esses tecidos, também foram aplicadas técnicas de beneficiamento como bordados em madrepérola, paetê, búzios, linhas de seda e cristais.
As cores se abrem na passarela com o preto e o roxo, simbolizando a dor dos processos escravocratas e o luto ocidental, contrastam com o azul esverdeado das águas do Oceano Atlântico, onde acontecem os trânsitos populacionais, se abrem no off white, passeando por uma gama de tons de branco, beges e algodão cru. Como marcas de resistência, elaboradas através dos atos de transcendência da dor, por meio da espiritualidade de matriz africana, a Coleção Fluxus também evoca a Dona das Águas, nos brilhos e bordados translúcidos; seguindo para o brilho metálico dos maxi-paetês em cobre, simbolizando a riqueza e a superação expressada pela obra de mulheres negras que tornaram-se grandes ícones das artes.
A produção contou com o auxílio de cerca de 40 estudantes do curso de design de moda da Unime – BA, seguindo a metodologia do projeto Modativismo.
Autoria: Carol Barreto, 2014.
Ficha Técnica:
Designer: Carol Barreto
Partner Designer: Ju Fonseca
Modelos: Suzana Massena e Suzane Massena
Fotografia: Natan Fox
Cabelo: Sista Katia
Make up: Sika Caico
Moulage e Confecção: Cllaudia Soares e
Turma de Design de Moda da Unime – Lauro de Freitas – BA – BR
Evento: Dragão Fashion Brasil, Fortaleza – CE – BR, 2014.